Filipetas
Eu queria mesmo conseguir te escrever algo. Eu sempre dizia em nossas conversas que, era só escrever que sarava rapidinho! Como um mertiolate literário.
Eu queria saber sempre o que estava passando na tua cabeça, sempre perguntando e observando teu piscar e sorrir de canto. "Nada além do que eu demonstro, Joy", tu me dizias como quem diz que tudo bem pensar muito ou não pensar em nada. Eu queria sempre te ter por perto, pois tua companhia era aconchegante mesmo que silenciosa. Tenho pra mim que nada do que passamos foi em vão. O que é engraçado pensar agora, já que antes de tudo eu sempre diminuía qualquer significado da vida. Você sempre tentando me convencer de que tudo tinha um motivo, que todas as pequenas coisas faziam parte de um propósito maior, de coisas grandes.
Eu queria te abraçar mais uma vez pra sentir aquele cheirinho que tu sempre teve. Cheirinho teu, que as vezes me fazia dar um pulo no meio da rua por sentir em outra pessoa um cheirinho parecido e pensar ser tu.
Eu não queria ter visto o que eu vi, vivido o que eu vivi nos teus piores dias. Mas como sempre, tu me convence de que tudo tem um propósito, mesmo quando tu não estás mais aqui pra me dizer isso com aquela cara de quem reza.
Eu queria compartilhar a minha vida do dia 16 em diante contigo. Queria te dizer que apesar "daquelas coisas da vida", tudo tá indo bem.
Eu lembro de como era automático ligar pra dizer alguma novidade que acabara de acontecer no meu dia, me lembro dos dias em que tudo parecia dar errado pra mim e tudo o que eu queria de noite era te ver, dividir aquele prato de macarronada e te ver sujar a camisa de molho e falar que morreria feliz se morresse naquele momento.
Eu queria ouvir Djavan e Jazz e te ligar pra falar que lembrei de ti, ou te mostrar um jazz novo.
Eu queria assistir tua série favorita que me dá sono, mas que tu sempre me chamava pra "assistir" e roncar do teu lado. Queria tanta coisa...
Eu queria comprar aquela casinha na Rua da Paz que você disse que era linda e que queria morar lá comigo e com nossa filha que se chamaria Petúnia.
Queria te guiar completamente errado no estacionamento do shopping e depois rir de todas as vias erradas que a gente pegou e quase é expulso do estacionamento. Queria rir de novo de tu me dizendo que eu tô linda com a minha calça jeans velha e desbotada. E de quando eu aliso o cabelo e tu me diz que prefere meus cachos. Queria te fazer rir, mostrando que meu cabelo também caía e muito mais do que o teu e que tudo bem ser careca. E dizer envergonhada que eu acho carecas um tanto charmosos.
De te ver escolhendo chapéus com muita paciência e dúvida, mesmo estando atrasada só pelo prazer de te ver colocar as mãos na cintura e fazer pose com modelos diferentes no meio da loja.
Eu queria esse teu jeitinho de andar e procurar o celular no bolso a cada cinco passos e falar baixinho "ah, graças!" quando o encontra. De procurar algo no bolso da camisa mesmo quando a camisa não tem bolso.
Eu queria pegar na tua barba de novo, como quando acabava o assunto e a gente ficava se olhando e fazendo careta pra passar o tédio. Queria te encontrar no ônibus e ficar te cutucando enquanto tu tenta ler um livro chato de nerd e acabar te fazendo guardar o livro e ficar vendo a cara das pessoas no ônibus tentando adivinhar no que elas estavam pensando.
Queria tantas coisas de volta. Inclusive tu, "Filipetas".


Chorei. Chorei o que não chorei a dias, o que não fazia sentido, até fazer.
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