TEMPO DE MUDA

Isso não é um poema, e nem quero que seja! É só um emaranhado de questões mal resolvidas, frases inacabadas e gestos mal interpretados. Afinal de contas, isso é sobre nós, é sobre tudo o que nos tornamos e tudo o que construímos em dois anos. Nada disso foi planejado, nem o despertar tardio dos meus sentimentos mais sinceros, nem a paixão desvairada por qualquer outrem mais interessante, aquela pessoa semelhante, que me entende e pra quem tudo bem ser eu mesma. Não planejei esse cuidar de amizade profundo e pegajoso, essa substância que mais parece uma mancha que não sai nem esfregando com toda força. E por mais que lhe pareça algo certo, outro alguém, algo planejado e meticuloso, nada disso foi fácil, tudo girava em torno de magoar ou não alguém por quem eu tinha apreço. Mas o fato é que nada disso fez sentido até simplesmente fazer e eu precisar dizer adeus.

Eu não sei se esse nós ainda pesa sobre você, se te deixa irritado no meio da tarde querendo mandar mensagem, ou se te pega de surpresa a caminho do trabalho aquela pintinha que eu tenho entre os dedos da mão. Mas parece que quando a gente sente que as memórias estão se esvaindo e que tudo está se tornando um vazio, o inconsciente tenta a todo custo fazer isso tudo permanecer, e é aí que somos assombrados pela falta de algo que já não é mais, que já não era há tempos. Memórias criadas, modificadas pra nos fazer crer que tudo foi maravilhoso, pra nos fazer questionar o porque da distância... até que retomamos a consciência e percebemos que por mais doloroso que seja o esfregar,  a pele em chamas, cansada de tanto tentar retirar esses pedaços de nós, por mais que tudo isso incomode, tudo isso é necessário para que retornemos à origem daquilo que somos em nossa mais verdadeira essência. 

Acho que no fundo tudo isso não passa de uma retomada daquela nossa parte que deixamos em outra pessoa. e que, na verdade, a dor que sentimos é falta que faz aquela parte de nós, aquela versão que fazia alguém feliz, e no fim, só nos resta aceitar essa mudança.

Uma troca de pele paciente e reveladora.